Baseado no livro homônimo de Whit Masterson (pseudônimo mais usado pela dupla Robert Wade e Bill Miller), o próprio Welles fez o roteiro desta atemporal obra-prima (junto com Paul Monash e Franklin Coen que não foram creditados) . Um film-noir que é um retrato excepcional da corrupção e obsessão moral. O filme foi adulterado a pedido dos executivos da Universal Pictures, que não gostaram do resultado final apresentado pelo mestre Orson Welles, incluindo cenas, reescrevendo trechos e reeditando o filme. Welles chegou a escrever uma carta de 58 páginas discutindo as mudanças, mas não foi atendido. Somente 40 anos depois, a dupla Bob O’Neill e Rick Schmidlin encontrou a carta e resolveram remontar o filme seguindo as instruções de Welles, acrescentando cenas que estavam nos arquivos da Universal.
Desde que estourou em 1941 com Cidadão Kane, Welles foi sinônimo de genialidade e polêmica. Contestador, sempre teve que “lutar” para fazer, apresentar e garantir que sua obra sobrevivesse aos poderes capitalistas dos estúdios e dos produtores que não gostavam de sua “arrogância artística” e também que diziam, era um tremendo gastador. Felizmente, a obra sobrevive aos homens; e este foi o caso de A Marca da Maldade.
Por fim, podemos “ler o filme” depois de sua ressurreição e notar que a produção de Welles é cheia de energia, e é, segundo alguns críticos, melhor do que os filmes anteriores do diretor. Um exagero, evidentemente. Cidadão Kane é imbatíbel!
Todo o projeto do filme tem um ar irreal, audaciosamente trabalhando num submundo de corrupção policial, sexo, drogas e racismo. Welles imprime um estilo próprio e único neste filme. A Marca da Maldade é um estudo extremamente interessante sobre o caráter de um homem, o filme impressiona pelo visual sombrio, que faz com que o ar seja ainda mais decadente nas cidades que se situam nos dois lados da fronteira entre o México e os EUA.
Por fim, os movimentos de câmera não nos deixam esquecer que estamos assistindo à um filme de Orson Welles. E vendo o próprio Welles em ação, não podemos esquecer que estamos assistindo o Welles!
Este DVD que eu comprei na banca da praça é uma versão completa e sem cortes (a tal versão restaurada) que tanto falam. É impressionante que um filme feito em 1958, a mais de 50 anos atrás, possa ainda deixar quem o assista com a impressão de que o mal realmente existe. A atuação de Orson Welles como o corrupto Hank Quinlan é algo para se colocar na história dos grandes personagens do cinema. E ainda acham que um filmizinho sobre uma bobeira qualquer possa ser mais valioso do que esta obra-prima. É brincadeira!
Em última análise, podemos dizer que A Marca da Maldade é um filme que trata de forma vigorosa a questão da ética, onde o próprio título original estampa como um aviso de que aqui se trava a luta do bem contra o mal. Uma obra-prima sob todos os aspectos
..
2 comentários:
Pois, rubens, te digo que o dono da banca perto da sua casa é um comerciante, ou seja, visa lucro. E, além disso, ele conhece o valor de mercado dos seus produtos e sabe que uma fita da Xuxa representando uma prostituta vale muito mais, no sentido de ser uma raridade, já que este filme >>>"Amor, Estranho Amor"<<< está no INDEX (no livro negro) da Xuxa e da Globo. Concordo contigo no fato de ser lamentável as pessoas em geral não terem muita chance de apurarem seu senso crítico no tocante a cinema. Mas como fazê-lo, se os responsáveis pelos meios de comunicação e distribuição em nosso país e em muitos outros estão preocupados somente em nos empurrar pacotes fechados e altamente descartáveis do lixo cinematográfico americano? As pessoas vão ficando brutalizadas e só enxergam na sua frente o valor material das coisas, pois não têm sequer conhecimento de por onde começar a "garimpar" as coisas realmente legais que ficaram esquecidas. No entanto, isto não é totalmente culpa delas, mas de quem tem o poder de mudar tudo isso numa escala nacional.
Parabéns pelo blog, muito bem feito, bonito, organizado e rico em detalhes.
Um abraço
recycle bin (amarcadamaldade.blogspot.com)
Rubens,
Não sei exatamente em que local você está, mas há algum tempo procuro este filme e gostaria de saber onde é esta banca, pois se for em sp capital, quem sabe não há mais uma cópia, pois não o acho em locadora.
Se puder, responda para: nitnesi@ig.com.br
Obrigada
Postar um comentário